
Sempre fui um sonhador nato…
Já a frequentar o Lycée Français Charles Le Pièrre, em Lisboa, a minha ânsia por “voos” mais altos me ensombravam a alma. Ainda guardo o calor do desejo de algum dia vir a exercer a carreira de topo na então República do Zaïre, agora República Democrática do Congo.
Porém, ainda havia uma outra ânsia, a de exercer o sacerdócio, já que tal desejo me fora, desde tenra idade incutido, pela família, nomeadamente, a minha querida mãe. Após a saída no liceu francês, ainda fiz dois anos na extinta Escola Secundária dos Anjos, e só depois do 11º ano, decidi entrar no seminário. Uma experiência inexplicavelmente bela e única, a qual só quem a viveu com alma e coração pode testemunhar, embora (infelizmente) as palavras não chegue para descrever.
Conheci, na minha caminhada no Seminário de Penafirme, jovens que como eu, procuravam “o” sentido para as suas vidas. É claro que num tal percurso já se caminha para uma determinada orientação, o sacerdócio. Contudo, é bom relembrar que “a seara é grande mas os trabalhadores são poucos”, isto é, ninguém dos que se forma deve ter a certeza do “resultado” final dessa caminhada, pois Deus chama quem quer, quando quer, onde quer, e como quer.
Confesso que não via mais nada a não ser o sacerdócio, como vocação. Um erro para quem deve abandonar-se e deixar-se moldar pela vontade de Deus a seu respeito. Recordo com saudade o que me dizia o meu querido “Pater”, o Reverendo Senhor Padre Mário Rui Leal Pedras (meu Padrinho por estima):” quem quer o que Deus quer, tem tudo quanto quer….”- Palavras de Santa Teresinha do Menino Jesus. Agora percebo a razão para que tal frase tanto me interpelava.
Após um ano de seminário, propriamente dito, acabei por decidir sair. Ainda me recordo do jantar que tive com o então Vice-Reitor do Seminário der Penafirme, o Reverendo Padre José Miguel Barata Pereira, um amigo precioso para quem o conhecer como pessoa. Fomos jantar na Portugália do parque das Nações. Só depois da sobremesa é que ganhei coragem para lhe dizer que tinha decidido (curiosamente, no dia 11 de Setembro de 2001 – atentado em NY) sair do seminário. Não quero deixar de recordar, com saudade, os meus companheiros dessa memorável caminhada: Francisco Martins, José Duarte, Marcelo Boita, Joel Leal, André Ventura, Luís Alves, Boaventura, Ricardo Ferreira e Carlos Martins. A vida nos cruzou numa vivência que para sempre nos marcou.